sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Balaieiro

Para meu Xamâ, meu parceiro, Mestre Juca do Balaio, que Deus o tenha brincando maracatu!!!


Balaieiro


Um balaio e balaieiro
um balaieiro de balaio
de fertilidade
da fértil cidade
xamã e bamba de balaio grande
e maracatu
tem cajá e abacaxi
pitomba e sapoti
e algo dali
pra montar o seu balaio
que não é de cair
é de guerrear
de balaiada
de criar balaio por aí
nas voltas que o balaio der
o mestre do balaio
faz o que quiser
quando a vida inteira
dança
na cabeça
frutas do terreiro
terreiro brasileiro
quando se vira uma coisa só
balaio e balaieiro.


Alan Mendonça

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Hoje tem cordel? Tem sim senhor



A Chegada de Lampião ao inferno

José Pacheco








Um cabra de Lampião
por nome Pilão Deitado
que morreu numa trincheira
um certo tempo passado
agora pelo sertão
anda correndo visão
fazendo malassombrado.


E foi quem trouxe a notícia
que viu Lampião chegar
o inferno nesse dia
faltou pouco pra virar
incendiou-se o mercado
morreu tanto cão queimado
que faz pena até contar

Morreram a mãe Conguinha
o pai Forrobodó
cem netos de Parafuso
um cão chamado Cotó
escapuliu Boca Ensoça
e uma moleca moça
quase queimava o totó

Morreram cem negros velhos
que não trabalhavam mais
um cão chamado Traz Cá
Vira-Volta e Capataz
Tromba Suja e Bigodeira
um cão chamado Goteira
cunhado de satanás.

Vamos tratar na chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu:
Quem é você, cavalheiro?
Moleque, eu sou cangaceiro:
Lampião lhe respondeu.


Moleque, não; sou vigia
e não sou seu parceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é o primeiro:
- Moleque, abra o portão
saiba que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.


Então esse tal vigia
que trabalha no portão
dá pisa que voa cinza
não procura distinção
o negro, escreveu não leu
o macaiba comeu
ali não se usa perdão.

O vigia disse assim:
fique fora que eu entro
vou conversar com o chefe
no gabinete do centro
por certo ele não lhe quer
mas conforme o que disser
eu levo o senhor pra dentro.

Lampião disse: vá logo
quem conversa perde hora
vá depressa e volte já
eu quero pouca demora
se não me derem ingresso
eu viro tudo asavesso
toco fogo e vou embora.

O vigia foi e disse
e satanás no salão:
saiba a vossa senhoria
que aí chegou Lampião
dizendo que quer entrar
e eu vim lhe perguntar
se dou-lhe ingresso ou não.

- Não senhor, satanás disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora!
eu já estou com vontade
de botar mais da metade
dos que tem aqui pra fora.

- Lampião é um bandido
ladrão da honestidade
só vem desmoralizar
a nossa propriedade
e eu não vou procurar
sarna pra me coçar
sem haver necessidade.

Disse o vigia: patrão
a coisa vai arruinar
eu sei que ele se dana
quando não puder entrar
satanás disse: isso é nada
convide aí a negrada
e leve os que precisar

- Leve cem dúzias de negros
entre homem e mulher
vá lá na loja de ferragem
tire as armas que quiser
é bom avisar também
pra vir os negros que tem
mais compadre de Lucifer


E reuniu-se a negrada
primeiro chegou Fuchico
com o bacamarte velho
gritando por Cão de Bico
que trouxesse o Pau de Prensa
e fosse chamar Tangença
em casa de Maçarico.


E depois chegou Cambota
endireitando o boné
Formigueiro e Trupe-Zupe
e o crioulo Quelé
chegou Caé e Pacáia
Rabisca e Cordão de Saia
e foram chamar Bazé.

Veio uma diaba moça
com a calçola de meia
puxou a vara da cerca
dizendo: a coisa está feia
hoje o negócio se dana!
E gritou: êta baiana
agora a ripa vadeia!

E saiu a tropa armada
em direção do terreiro
com faca, pistola e facão
cravinote e granadeiro
uma negra também vinha
com a trempe da cozinha
e o pau de bater tempero.

Quando Lampião deu fé
da tropa negra encostada
disse: só na Abissínia
oh! tropa preta danada!
o chefe do batalhão
gritou de arma na mão;
- Toca-lhe fogo, negrada!

Nessa voz ouviu-se tiros
que só pipoca no caco
Lampião pulava tanto
que parecia um macaco
tinha um negro neste meio
que durante o tiroteio
brigou tomando tabaco.

Acabou-se o tiroteio
por falta de munição
mas o cacete batia
negro rolava no chão
pau e pedra que achavam
era o que as mãos pegavam
sacudiam em Lampião.

- Chega traz um armamento!
(assim gritava o vigia)
traz a pá de mexer doce
lasca os ganchos de caria
traz um bilro de Macau
corre, vai buscar um pau
na cerca da padaria!

Lucifer mais satanás
vieram olhar do terraço
todos contra Lampião
de cacete, faca e braço
o comandante no grito
dizia: briga bonito
negrada, chega-lhe o aço!

Lampião pôde apanhar
uma caveira de boi
sacudiu na testa dum
ele só fez dizer: oi!...
Ainda correu dez braças
e caiu enchendo as calças
mas eu não sei dizer o que foi.

Estava travada a luta
duma hora fazia
a poeira cobria tudo
negro embolava e gemia
porém Lampião ferido
ainda não tinha sido
devido a grande energia.

Lampião pegou um seixo
e rebolou-o num cão
mas o que; arrebentou
a vidraça do oitão
saiu fogo azulado
incendiou o mercado
e o armazém de algodão.

Satanás com esse incêndio
tocou no búzio chamando
corretam todos os negros
que se achavam brigando
Lampião pegou a olhar
não vendo com quem brigar
também foi se retirando.

Houve grande prejuízo
no inferno nesse dia
queimou-se todo dinheiro
que satanás possuia
queimou-se o livro de pontos
perdeu-se vinte mil contos
somente em mercadoria.

Reclamava Lucifer:
horror mais não precisa
os anos ruins de safra
agora mais esta pisa
se não houver bom inverno
tão cedo aqui no inferno
ninguém compra uma camisa.

Leitores, vou terminar
tratando de Lampião
muito embora que não possa
vou dar a explicação
no inferno não ficou
no céu também não entrou
por certo está no sertão.

Quem dúvida desta história
pensar que não foi assim
querer zombar do meu sério
não acreditando em mim
vá comprar papel moderno
escreva para o inferno
mande saber de Caim.





Fotos de pinhole - Brasil pelo buraco da agulha!

-- Desvendar o Brasil em fotos pelo buraco da agulha, essa é a façanha do fotografo português Mica Costa-Grande que está no país para iniciar mais um Rito de Passagem, viagem a bordo de um caminhão que abriga uma câmera capaz de tirar fotos de 4,5 metros.
--O fotógrafo vai fazer, ao longo de seis meses, 25 fotos que podem entrar para a história. Cada uma delas terá 4,5 metros de largura por 1,2 metro de altura e será feita por uma câmera fotográfica gigante construída no baú de um caminhão. Costa-Grande vai sair de Roraima e percorrer 25 mil quilômetros até chegar a Foz do Iguaçu, no Paraná.
--Durante o percurso vai tirar 25 fotos e tentar entrar para o Guiness Book, o livro dos recordes, como a maior câmera fotográfica móvel do mundo. A câmara escura terá uma abertura para o exterior de 2 milímetros, por onde vai entrar a luz que vai impressionar o papel fotográfico, formando a imagem.“Cada foto, para ficar pronta, vai precisar de uma exposição de oito horas”, afirmou Costa-Grande. De acordo com ele, neste espaço de tempo (à velocidade de 1/125 de segundo), poderiam ser feitas três milhões e meio de fotografias. O caminhão também terá um sistema de nivelamento eletrônico, para evitar movimentos e garantir uma boa foto.
--Com o projeto “Brasil, na boca da agulha”, vai fotografar o País com a maior máquina fotográfica do mundo. Montada na carroceria baú com 7,5 m de comprimento de um caminhão Volkswagen, concebido especialmente para a expedição brasileira, a exposição à luz de cada foto levará oito horas, que significaria, à velocidade de 1/125 de segundo, o registro de 3,5 milhões de fotografias nesse espaço de tempo. Os negativos serão cerca de 5 mil vezes maiores que o formato normal de 35mm, com 5 m2.
--O trajeto pelo Brasil resultará num livro, em forma de lata, com as fotos panorâmicas enroladas no seu interior. O fotógrafo percorrerá 25 mil quilômetros pelo Brasil, de Roraima a Foz de Iguaçu, na fronteira com o Paraguay, devendo iniciar a façanha em Outubro deste ano, até Fevereiro de 2007. Em companhia da sua esposa Sofia e dos filhos Elói e Sáskia nascidos em Macau, Mica já passou por 70 países e fez cerca de 100 mil fotos.
--A maior câmera fotográfica do mundo, que deve entrar para o Guiness Book, fará fotografias especiais durante o trajeto no Brasil. A exposição à luz de cada foto feita pelo caminhão/câmera levará oito horas. Neste espaço de tempo (à velocidade de 1/125 de segundo), poderiam ser feitas 3,5 milhões de fotografias. Os negativos serão de cinco m2, cerca de 5.000 vezes maiores que o formato 35 mm. Na lateral do caminhão, serão instaladas duas telas de plasma de 50 polegadas, para entretenimento público durante as tomadas de vista. Depois do Brasil, a viagem ao redor do mundo de Mica Costa-Grande, continuará pelo Alaska, passando pela Sibéria e terminará na China.
--Confira as fotos de pinhole no site: www.ritospassagem.com.
-- As fotos são belissimas!

sábado, 15 de setembro de 2007

Fome de Vida - Mateus Aquino

Fome de Vida – Mateus Aquino

Mateus Araripe de Aquino virou um super-herói cearense antes de partir. Seu nome merece placa, busto, estátua, nome de praça, nome de rua, ou melhor e maior, de avenida. Muito mais que tantos politiqueiros. O seu último dia de herói, dia 09 de setembro, deve ser decretado pela sociedade dia nacional de cadastro de doadores de medula óssea.

Talvez ele tenha partido sem entender a importância para tantos outros. Por sua vida ele já salvou 5 pessoas com a campanha de doação de medula e irá salvar muito mais. Cerca de 10 mil pessoas, desde o mês passado, já se cadastraram no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redoma). E a campanha não deve parar. Só no Ceará há mais 44 vidas na fila do transplante de medula a serem salvas com um gesto de solidariedade.

Linfoma linfoblástico é um tipo de câncer raro que necessita de transplante de medula e a chance de compatibilidade é de 1 em 100.000. Por isso é tão importe manter a campanha e o cadastro de doadores.

Para ser doador de medula óssea você deve ir ao Hemoce portando identidade com foto e CPF, ter de 18 a 55 anos e estar bem de saúde. Após o cadastro quando aparecer um paciente, sua compatibilidade será verificada. Se houver compatibilidade, outros testes sangüíneos serão necessários. Se a compatibilidade for confirmada, você será convocado para decidir a doação. Você será avaliado por um clínico e receberá informações.
Segundo Ozéias Firmeza, funcionário da Chesf e doador, falta um incetivo mais concreto do poder público para incentivar a doação. Ele sugere distribuição de brindes. Uma blusa, uma caneca com a marca "eu sou doador" já atrairia mais alguns doadores. O ideal era que esse gesto fosse espontâneo. Mas para aumentar as doações e cadastros não custa nada ou quase nada esse brinde se compararmos com uma vida.

:::Local
HEMOCE - Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará
Av. José Bastos, 3.390, bairro Rodolfo Teófilo
(85) 3101.2296

:::Horário de funcionamento
De segunda a sexta de 7h30 às 17h
e no sábado, de 8h às 15h


Medula Óssea - É a matriz do sangue, localizada na parte interna dos ossos, semelhante ao tutano dos ossos do boi. Na medula óssea, estão as células-mãe que dão origem aos glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Re-comendo!

-- Leitura que muito re-comendo!!

-- Conto: A Terceira Margem do Rio
de Guimarães Rosa

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos.
Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito.
O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.
Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava.
Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.
A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo.
O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.
Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida.
Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte.
Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia...
Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Sepulcros

Um homem apêia de seu cavalo na curva da estrada. No céu, sol e lua ainda guerreiam em sua luta diária em uma guerra de armas e de horas que todos sabem o desfecho diante as armas. Fazem do céu turbulento e avermelhado o divino espetáculo aos olhos dos bêbados no palco celeste de um teatro que alguns acordam pra assistir e outros assistem por que não dormiram ainda.
Seu José Boiadeiro nem reparou na passagem do homem. Estava acordando a boiada gritando: Êh...boi! Êh...boi! Êh ...boi!
E a gente do lugar é boi sem chocalho.
Sou de Bento Pereira, sou daqui.
Me sento num tronco de carnaúba caído enrolando meu cigarro de palha e arreparo no homem que passa andando, puxando seu cavalo cansado. Seus olhos são profundos e tristes... sua cara empoeirada. Tem um chapéu na mão, sobre o peito, como rezando. Passa sem olhar pros lados.
Dona Maria de Seu Bernardo faz tapiocas no fogão de lenha e alguém chega em casa com um tejo da noite passada.
Ninguém olha para o homem cabisbaixo, andarilho. Em sua cintura... um punhal esquecido e anda como se tivesse o peso de uma lembrança. Sei... porque também ando assim.
Se me olhasse, lhe perguntaria pra onde está indo, pois anda feito bicho sem destino. Sei... porque um dia andei também. Mas parei onde nasci e onde morri várias vezes.
O homem pára na porta do cemitério e se benze. Olha por algum tempo, põe o chapéu na cabeça e prossegue. Seu João Coveiro conversa com os mortos e nem percebe.
Se continuar por esse caminho, no seu andado em desalinho, talvez encontre o mar. Muitos procuram o mar. Sei disso... porque também procurei.
O homem pára na bodega de Seu Pedro e pede um trago... e pede outro... e mais outro... e mais outro... e pede água para o seu cavalo.
– “Água é bicho raro... ainda mais para um cavalo”.
O homem disse: – “Eu pago”, pondo o punhal sobre o balcão.
Seu Pedro aperriou-se e o homem disse:
– “Calma, seu moço... num se avexe, não... guarde o punhal... num carece mais da água, não.”
Sei disso... porque um dia também tive um punhal e troquei com Deus pela água de um rio, onde me banhei em desvario e chorei minhas bestagens... no Rio Palhano que é bem ali, no dia em que vim do mar.
O homem sai em passos largos puxando seu cavalo cansado. Na outra curva da estrada, um grito e um galope.
Seu Pedro atravessa a piçarra trazendo uma garrafa e me oferece um gole. Tomo meu trago diário. Seu Pedro bebe em goles enormes e oferece para qualquer um que sofre. O cheiro da aguardente vai juntando boi e gente, e surgem casos e sepulcros. Cada qual tem sua dor.

Dez dias antes, em Olinda, Pernambuco, uma mulher foi encontrada morta e, ao seu lado, uma carta de amor.

Sei disso... porque sei.


Alan Mendonça
Caros Amigos, clientela freqüente,

O nosso restaurante ficou vazio nesta quinta, com seu estandarte a meio-mastro, pois não pudemos servir o que de melhor havíamos preparado: culinária tipicamente italiana.

Hoje, portanto, estamos de volta, mas com algum pesar. Culinária, qual música, é arte - O PraTododia é feito de artistas. Arte, por si só, é uma grandeza universal, tal é o espaço reservado nos compassos orquestrados a Luciano Pavarotti.

Foi-se a voz lírica mais popular do mundo no século XX, e neste início de XXI.
Quando criança, em casa, as panelas da cozinha de minha mãe eram como caixas de som de retorno. Eu passeava pelos cômodos, cantando dentro do aço 'inox', à minha moda, o canto do tenor. "Funiculì, Funiculà, Funiculì, Funiculà...".

A última postagem que fiz no meu INTERLIVRE, há alguns dias, trouxe um vídeo com Pavarotti ao lado de seus dois parceiros, Carreras e Domingo, cantando "Manhã de Carnaval", canção brasileira. Não sei... Talvez, eu tenha estado ciente de seus padecimentos, mas o revisitei naquele texto apenas pela apreciação do canto em português. A grandiosidade já estaria inclusa.

Aqui, no PraTododia, os nossos pêsames, mas, ao mesmo tempo, nossa admiração. Neste vídeo, uma das peças líricas mais associadas à voz de Luciano Pavarotti, "Nessun Dorma" - e é uma imagem que deve estar sempre fresca na memória da música mundial. Eu poderia pintar neste texto todo o grosso sentido que é esta ida, mas sirvo este prato a gosto do(a) nosso(a) leitor(a).



(Clique na imagem do vídeo, se quiser ir para a página do YouTube)

"Penso che una vita per la musica sia una vita spesa bene,
ed è a questo che mi sono dedicato"
(Luciano Pavarotti)
"Penso que uma vida pela música seja uma vida muito boa,
e é a isto que sou dedicado"

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Receita do Dia? Alimentando a Luta!

A receita de hoje é uma mistura de sal, água, goma de mandioca e margarina. Tudo bem amassado dar liga. Assim é a organização comunitária, uma massa construída nas lutas coletivas pelo direito a terra e a qualidade de vida!

Sexta-feira dia 7 de setembro comemora-se a independência do Brasil! Que independência? Na mesma data a comunidade de Curral Velho, do município cearense de Acaraú, relembra a violência contra pescadores e adolescentes que negavam as fazendas de camarão em sua terra.

Essa data é para a Curral Velho um marco na luta contra os carcinicultores. Em 2004, moradores da comunidade, entre eles crianças e adolescentes, foram torturados por pistoleiros contratados pela empresa Joli Aqüicultura Ltda - produtora de camarão em cativeiro.

Nesses três anos a comunidade não esmoreceu sua luta e hoje celebra suas conquistas. Entre elas a construção do Centro Comunitário Encante do mangue – espaço coletivo para realização de oficinas, reuniões, atividades culturais e desenvolvimento do turismo comunitário. Construído dentro do mangue, ocupa um espaço simbólico – “AQUI OS CARCINICULTORES NÃO TOMAM!”

A pesca de peixes e mariscos, infelizmente, sofre com os problemas sócio-ambientais do litoral. Acaraú não consegue mais atingir a fartura de peixe pela qual ficou famosa. O que comprova a insustentabilidade das pescas industrais. Exemplo disso está na comprovada a falência da carcinicultura no Ceará. (Veja matéria: Após auge em 2003, criação de camarão declina no país. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u316434.shtml)


Portanto, para dividir com a sociedade, Curral velho convida todos para um ato em nome da luta de sua comunidade. Uma briga contra o capital que é comum a todos povos do mar. Será uma oportunidade para firmar posturas e celebrar vitórias. A programação conta com a presença da Comunidade do Cumbi e seus Calungas, também agredidos, no Aracati, pela carcinicultura.

Para recordar e saber mais:

http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/399394.html

http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/399393.html

http://www.terramar.org.br/

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Não tem água mineral! Somente Côco!

Caros clientes,


Alguém está com sede? Sinto informar que o PratodoDia apenas fornecerá água de côco, explico o porquê!


Na próxima semana, Fortaleza sediará o 16ª Congresso Brasileiro da Indústria das Águas Minerais. Evento organizado pela Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam) e que contará com o apoio despretensioso da maior empresa de envasamento de água mineral (a qual todos sabem qual é o nome e a quem pertence).


O motivo da escolha de Fortaleza para sediar o Congresso, também não foi a toa. Segundo a Abinam, dentro do crescimento apresentado pelo mercado de água mineral, cerca de 25% do mesmo é atribuído ao Nordeste, além disso, um fator que conta para a escolha de Fortaleza é a homenagem è empresa cearense de água mineral devido essa despontar como a sétima maior empresa do setor no mundo.


Durante o Congresso, os senhores das águas brasileiras irão discutir o mercado e seus lucros no setor e serão apresentados às novas tecnologias de envasamento de água mineral, além de colocar em discussão o tema: “Novas Tendências no Mercado de Águas Envasadas”.


Ainda durante o Congresso, os “donos” da água brasileira poderão festejar um crescimento de 5,6mil% acumulado nas últimas duas décadas, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e degustar a projeção, feita pela própria Abinam, de 20% de crescimento anual até o final de 2008.


Vale aqui mencionar que o crescimento no consumo de água mineral também reflete outros dados, como os níveis de consumo no exterior, entre os principais produtores temos o México, com 15,46 bilhões de litros; os Estados Unidos (11,52 bilhões de litros); Itália (produzindo 8,75 bilhões); Alemanha (8 bilhões) e França, com 6,5 bilhões de litros. Os dados, entretanto, curiosamente revelam os Americanos como fortes importadores de água mineral.


Quanto ao consumo dos Americanos, o que poderia ser considerado como um alternativa feliz às projeções feitas para o setor, traduz-se em uma triste alternativa para a Natureza, porque eis o problema: enquanto os americanos abusam do consumo de água mineral nas suas garrafinhas tipo PET, as torneiras dos americanos estão a jorrar água, que a contrário de diversas nações ou confins desse nosso planeta, apresenta uma água com perfeitas condições para consumo, ou seja, uma água digna de mineral.


Quem paga? A natureza, é claro! Levando em conta que os Americanos consomem 20 bilhões de litros de água, dividindo esse volume entre alguns copinhos de 200ml, garrafinhas de 1l e 2l e alguns garrafões de 20 litros, o pato fica para a natureza pagar.


Um dado apresentado pela edição 900 da revista Exame traz uma curiosidade histórica: em 1990, quando houve uma queda no consumo de refrigerantes pelos americanos, as grandes empresas produtoras dessas bebidas passaram a investir no setor de água mineral a fim de suprir as perdas nesse outro mercado. No entanto, o consumo deslocado para o setor de águas minerais só fez alarmar a sociedade para uma situação mais grave ainda, o consumo de água resultava no acúmulo de várias garrafinhas nos lixões, em um momento que apenas 43% do lixo nos EUA era reciclado.


Quem paga? A natureza é claro!


Voltemos ao nosso Ceará, casa da sétima maior empresa de envasamento de água mineral do mundo! Não nos deixemos enganar, pois as perspectivas de crescimento nesse setor são bastantes otimistas frente a sede de cada consumidor, mas aquilo que vem logo após a sede é bem pior, pois, apesar dos tímidos avanços na reutilização do lixo, pouco ainda tem sido feito no sentido de redirecionar as milhares de garrafinhas de água mineral!


Estejamos alerta!


Sugestão do PratodoDia: Durante o Congresso que ocorre do dia 6 ao dia 8 de setembro várias empresas do ramo de água mineral estarão presentes com stand oferecendo aos transeuntes água mineral vinda de vários locais do país. Como uma forma de protesto, leve um copo de requeijão, abra, num local próximo, uma torneira, encha o copo, e beba a água com todo sabor. Uma solução também viável é passear por entre os stands saboreando uma deliciosa água de côco.



domingo, 2 de setembro de 2007

Engasquei! Essa desceu ruim!

-- Comeu é desceu pesado?
-- Não sei se todos viram, então envio uma nota do blog de política do O Povo (30/08/2007)
Muitos de nós temos, infelizmente, nossas refeições diárias regadas à muito sangue e violações. E ainda há quem goste? Os programas policiais do estado (Barra Pesada, Comando 22, Cidade 190 e Rota 22), violadores dos direitos humanos, têm grande audiência e são plataformas político-ideologicas de diversos interesses de classe. A polícia se vangloria do seu "magistroso" trabalho alí ao vivo, expondo pessoas que ainda não tiveram sua sentença dada e são criminosamente acusados como marginais, meliantes periculosos.
-- As violações são as mais diversas: familiares e amigos de vitimas são obrigados a ver a dignidade dos seus expostas na telinha, os corpos violados no chão são meros pacotes, adolescentes têm sua imagem esfacelada por holofotes que só visam a audiência. O pior de tudo é que, judicilmente, se torna complicado combater o seu conteudo, pois os apresentadores têm sua bancada politico-partidária garantida de defesa. Esses programas não são enquadrados na classificação indicativa, por serem "jornalísticos" e exibidos ao vivo.
-- No blog do Jornal O Povo saiu essa nota:
-- "Tem dias que a gente quer correr, sumir, desaparecer. O deputado Ferreira Aragão (PDT), disse hoje na Assembléia que os "pobres são necessários para a sociedade". Segundo ele, "os pobres são a mola propulsora do desenvolvimento", uma vez que "eles são basicamente consumidores e não aplicam em poupança". Este mesmo deputado, que também é apresentador de um programa policial na televisão, disse ontem que ele gosta de mostrar cenas de "bandidos mortos no chão". Para ele, este tipo de reportagem "é um exemplo para os jovens, é educativo". ... Não, não adianta. Não vou comentar. Não quero. Ninguém merece. O Hugo está me chamando...
Postado por Vicente Gioielli - vicente@opovo.com.br
30/08/2007 15:43"

-- Estou meio intalada com essa! Alguém me passa aí um copinho d'agua ...



sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Café

Faz o meu café
bela rosa cristalina
forma de boca matutina
cheiro das laranjas caetés
apaga a lamparina
o sol beija teu corpo menina
corpo de mulher
e cega-me a retina
conta-me uma mentira
pega minha mão
chama-me pra deitar
leva-me pro sertão
diz prum azulão
me guiar
quando eu acordar
mande-me uma carta da China
conta-me a minha sina
ensina-me a viver

quando eu acordar
encontra-me amanhã
na beira-mar de manhã
faz o meu café
leva o meu olhar.


Alan Mendonça

Refeição com gostinho de vitória


Esse é o slogan da campanha contra a venda da Companhia Vale do Rio Doce, para que o plebiscito popular [de 1 à 7 de Setembro] se torne publicamente conhecido pela nação, que sofreu as consequências da privatização no governo FHC, em 1997. Na época, vendida à preço de banana - um desconto de aproximandamente R$88 bilhões - foi avaliada por uma empresa norte-americana que superfaturou a compra e subestimou o valor de um incalculável patrimônio brasileiro.

Foi aberta uma ação judicial pelo Tribunal Regional Federal, Brasília, que anula o leilão de 97, baseada na avaliação fraudulenta da empresa . O motivo dessa decisão é reparar o enorme prejuízo causado pela venda da Vale e os danos da exploração extrativista e trabalhista da empresa. Com diversas denúncias de trabalhadores mal-remunerados, de ONGs ambientais e mobilizadores socias duramente repreendidos ao se manifestarem contra a companhia, contou ainda com a confissão do diretor financeiro da Vale, alegando que na época do leilão, o patrimônio inteiro valia em torno de R$ 92 bilhões, no entanto um banco de investimentos norte-americano avaliou a companhia em mais R$ 3 bi, sendo vendido a esse mísero preço, em parte, para uma empresa estadosunidense pertencente ao banco avalista. Ou seja, picaretagem financeira para caixa-dois das empresas privadas e do governo. Além de uma grande porcentagem das ações da Vale estar nas mãos de dois grupos ( Valepar e Litel) formados a partir dos fundos de pensão da Previ, entidade privada pertecente ao Banco do Brasil.

Uma vitória do povo, resultado de assembléias populares, reuniões em comitês políticos e sindicais, manifestações e finalmente, o alcance à justiça burocrática brasileira, que viu a ilegalidade das negociações, exepcionalmente da Vale, em torno da privatização em massa no governo de Fernando Henrique Cardoso, cuja sujeira está debaixo dos tapetes até hoje, com CPIs abafadas pelos partidos conservadores. A anulação do leilão, uma possível [re]estatização da Vale do Rio Doce através do plebiscito popular e a luta contra a contra- campanha publicitária da companhia, que ilude o telespectador pelo seu projeto sócio-ambiental megalomaníaco beneficiadora de uma mínima parcela de seus funcionários, deixando a grande maioria sem remuneração justa e degradando recursos naturais de reservas pelo extrativismo desmedido. Além do capital financeiro de lucros e investimentos serem todos privados, e estrangeiros.

Com uma campanha em prol do plebiscito ser tão restrita e mal circulada na grande mídia, não se têm informações sufucientes para todo o povo saber do que se trata e votar soberanamente, mas até onde chega a comunicação, a sã consciência dos brasileiros que participarão do plebiscito ressucitará com questões a respeito das causas e conseqüências da privatização da CVDR. As perguntas e maiores informações sobre o plebiscito estão no site oficial : http://avaleenossa.org.br/pergunta_ple.asp

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Cansados?

Vídeo em protesto ao "Cansei"
*vale a pena ver o comentário do Jô Soares na galeria de vídeos!

CANSEI
. Grito de "guerra" e nome do movimento que levou uma parte da elite paulistana e agregados à zona sul de São Paulo num ato de protesto contra o Governo, no último dia 17. Motivo: cansaço! É, o núcleo industrial, econômico, aristocrático e célebre do Brasil está abalado pela situação em que o país se encontra: caos aéreo, crise política, ex-proletário na presidência, programas sociais assistencialistas, e todo blá-blá-blá grande-midiático. Será que é [só] por isso mesmo?! Em parte sim!
Membros da OAB, incluindo seu presidente Luís Flávio d'Urso; organizador de festas da elite paulista, João Dória Jr.; o governador mineiro Aécio Neves, pessedebista; presidente da Philips do Brasil, Paulo Zottolo; Abert; Fiesp; ... estrelato da mídia em geral (o Xuxa, Hebe Camargo, Zezé di Camargo, Ivete Sangalo); e claro, moradores dos Jardins e afins. Todos unidos por uma causa, e nenhuma. Há uma lista discriminada de todos os apoiadores e digamos, patrocinadores, no blog do movimento. Nesse seleto grupo, uma agência publicitária participa, voluntariamente, da campanha veiculada gratuitamente nos meios de comunicação.
De declarado cunho apartidário, ouvia-se no ato, um coro forte clamando "Fora Lula" e um tímido cantarolar de "Pra não dizer que não falei de flores" a belíssima canção de um país perdido de Geraldo Vandré. Junto com ONGs e OGs (organizações governamentais), os ricos cidadãos cobravam res-pei-to e manifestavam contra a desordem da gestão aérea, no que diz respeito ao desconforto de vôos atrasados, à indignação de um governo popular que ainda tenta romper as barreiras políticas e econômicas que essa elite mantém firme a favor da desigualdade social e a vontade de aparecer na mídia como cidadãos comuns, que suam para lutar por justiça social e para pagar seus impostos. Além de protestarem contra a sempre presente corrupção de governo, nunca antes tão aprovadas e transmitidas as mais variadas CPIs, que fazem de políticos figurinhas-chave de noticiários, revistas e até revista Caras. Ai de quem fosse investigar e publicar as caixas-pretas de governos anteriores...
O que cansa é ver a hipocrisia de falsos políticos, da elite segregadora apolítica, a ignorância que fortalece a desigualdade socio-econômica, os movimentos de interesse partidário e tudo o que tem surgido para piorar a situação lamentável do país, que mal incentiva uma efetiva mudança social.

***
vide trecho de texto de Cristovam Buarque publicado no jornal O Globo de 18/8/07, transcrito no Observatório da Imprensa:

(...) Cansei, acima de tudo, da aparente impossibilidade de colocarmos juntos os cansados, que têm medo de perder seus privilégios, e os pobres, acomodados na sua falta de direitos.

Cansei, mais ainda tenho esperança de que um dia os cansados tenham patriotismo e os acomodados tenham consciência. E que juntos lutem por um país com uma escola boa para cada criança, independentemente da cidade ou da família em que tenha nascido.

Cansei também de tanta gente achar que isso é um sonho impossível.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Segunda-feira, vamos ao Mercado!

“Tou aqui há quarenta e três anu”, assim falou conservadamente uma das mais antigas locatárias do mercado da Aerolândia. “Eu e o Canelinha somu os mai velhu. Os outros já abandonarum ou então morreru. Sou eu e o velho Canelinha”, mais uma vez ratificou dona Nice, que advertidamente, pediu-me para não bater nenhuma foto dela.

“Já disse, não quero foto”, retrucou dona Nice ao mesmo tempo que desviava a atenção dela fazendo uma outra pergunta.

“Essa venda de carnes é da senhora?” O cheiro de carne podre era forte.

“Não não, é do Canelinha! Ele vende carne boa! Aqui a gente paga pra trabalhar. Depois que colocaram essa feira em frente ao mercado, o mercado se acabou!”

“Quer dizer que aqui não tem movimento?”

“Ter tem, mas é pouco...”

Continuei a fotografar. Apesar da ferrugem e do cheiro bastante incômodo, a luz que às duas horas da tarde entrava pelas frestas de ferro importado da Europa dava toda a graça para conseguir captar alguma imagem interessante.

“Quantas pessoas ainda têm aqui trabalhando?”

“Só umas seis! Aqui tá tudo acabado por causa da feira aí em frente. No mercado do Zé Walter foi assim!”

“Mas não há nenhuma iniciativa da prefeitura em reformar esse mercado?”

“Têm cinco firma trabalhando, mais só uma vai ficar, né?” perguntou dona Nice procurando uma resposta minha.

Continuei a fotografar enquanto dona Nice permanecia quieta na sua cadeira com assento de couro de bode, apoiada na parede, e com o velho vestido azul, com algumas rendas à altura do peito.

Um pouco perto, dona Mariana, senhora de uns quarenta anos, falava ao telefone público. Curiosa, enquanto eu ainda conversava com a mais velha locatária, ela despretensiosamente olhava, como quem querendo participar da conversa.

O clima era calmo, o local era ventilado. O que ainda rompia o som do vento era uma dúzia de homens, reunidos em duas mesas, em um trailer nas proximidades do Mercado, e um grupo de jovens, com as portas de um Gol abertas, tocando um forró de alguma banda, daqueles que costumeiramente se escuta em qualquer lugar.

Na frente do mercado, alguns pombos, todos brancos, catando sobras de alimento da feira de frutas e verduras que houve na quinta-feira passada, e um velho senhor, acredito que morador do viaduto da Base Aérea, a remecher os contêiners da Ecofor atrás de sei lá o quê!



A ligação logo terminou! Dono Mariana trocou alguns gestos com dona Nice, e logo se dirigiu para seu Box. Em frente a ele, uma precária mesa de plástico já um pouco escura, dois cadeiras de ferro típica de bar, um jornal velho por sobre a mesa e a sua dona apoiada sobre a bacanda como que esperando o próximo cliente.

“Boa tarde!”

“Boa!”

“O movimento aqui tá fraco...”, perguntei esperando uma confirmação.

“É, mas eu tenho minha clientela.”

“A senhora serve almoço?”

“Faço minhas quentinhas, sirvo as marmitas.”



No pequeno Box de dona Mariana, algo em torno de quinze metros quadrados de espaço. Podia-se ver uma mesinha com garrafas vazias de cerveja e uma de refrigerante de Caju, uma trempe com algumas panelas e um fogão um pouco enferrujado.

“A senhora está aqui há quando tempo?”

“Desde mil novecentos e noventa oito!”

“E qual é o dia de maior movimento?”

“Nenhum!”



sábado, 25 de agosto de 2007

Água de coco gelada na beira da praia.

“Fiz um feitiço de amor para encantar meu benzinho...”

Ninno Amorim [foto Witon Matos]

Cocos do Norte mostrou nesta sexta-feira, dia 25 de agosto, nos jardins do TJA (Theatro José de Alencar) que a brincadeira do coco está apenas começando. O grupo irradiou sua música do palco encantando e contagiando a platéia atenta e participante. Pouco a pouco os batuques e os efeitos de pedaleira iam remechendo os corpos que brincavam, saltitavam e cirandavam.

“Balance o corpo nesse coco sem sufoco,
não tenha medo não corra
que a festa vai começar...”.

Daniel Leão, instigado nas congas e zabumba faz um frevião. Ercília Lima nutre o palco com toque feminino no abê e vocal. Rodrigo Oliveira é o luthier dos comentários entre uma música e outra, entre um instrumento e outro. Jorge Santa Rosa é o erudito que alterna os sons graves do baixo elétrico com a Viola de Gambá. Felipe Breier tem muita história pra contar com seu violão. Ninno Amorim, ruivo inquieto e performático, é pesquisador e tirador de coco assumindo a maior parte dos vocais reforçado e ampliado pelo coro. A platéia se integra a essa formação cantando e dançando junto.

Ercília Lima. [foto Wilton Matos]

Ao som de “Rosa Cirandeira” uma roda se abriu nos jardins. Com direito a desafio de coco na ponta do pé e marcação na palma da mão. Nesta noite Marta Aurélia também subiu ao palco e deu o seu som, sua luz e seu talento.

Cocos do Norte traz no seu nome o título da música do paraibano Rosil Cavalcante parceiro de Jackson do Pandeiro. A música questiona sobre as origens do ritmo baião que consagrou Luiz Gonzaga. Só não questiona a alegria que o povo tem de dançar coco.

“Responda esse coco com palma de mão
Isso é coco do norte, nunca foi baião”

Ao descer do palco, Cocos do Norte se apronta para seguir à Juazeiro do Norte. Participa da III Mostra de Música Cearense do SESC com a canção "Brasileiro" de Ninno Amorin e Alan Mendonça. Nas sextas-feiras do mês de setembro a roda de coco será na Casa das Marias. Um show com convidados especiais a cada dia. Entre os convidados Wilton Matos, Marta Aurélia, Renegados...
Daniel Leão [foto Wilton Matos]

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Terra Carne

P.S.: Estava pensando sobre alimentos primordiais e lembrei de minha mãe...



Minha terra é minha carne
meu chão, um céu qualquer
mas o meu lugar
é onde minha mãe previu minhas dores
me cuspiu pro mundo
me limpou de beijo
e alumiou minha vista
antes da poeira da vida inteira.


Alan Mendonça

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

PF de Esquina faz a "diferensa"

Nem todo prato é servido quente!
Outras vezes, os pratos podem vir... expostos de maneiras diferentes.


Na Barraca do Betinho (Barra do Cauipe-CE), o cardápio já deixa qualquer um interessado na cozinha!
Na primeira página, as iguarias de se encher a boca d'água!



O CaranguEjo é uma delícia; servido à beira da água doce, acumulada numa espécie de barragem, de frente para o mar.



A MacaXeira também é uma especialidade da casa! Vem quentinha, a gosto! Não me perguntem como é preparada!

Claro, para não engolir a seco, o cliente pode pedir uma CERVERJA ("cerverja como ela virá gerlarda!") geladinha... ou, algo mais sofisticado... um CAPARI ("capari" uma bebida com a outra!).

Agora, qualquer dúvida sobre preço, preparo e serviço da Barraca... CONSUTA o GARÇON, patrão!!! Mas, lembre-se, preocupados com a limpeza do lugar e, claro, com os lucros do estabelecimento, lembramos que...


Fotos na Barra do Cauipe-CE, em agosto de 2007 (Richell Martins)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Receita do Dia? Decepar a cana...

A mistura de hoje é temperada por indignação. Um sentimento perdido na sopa rala que está nosso país. Um fogão no qual o fósforo está na mão do capital.

Contrariada, Ypióca tenta intimidar para calar movimentos sociais. Em repúdio a agroindústria é realizado ato na Praça do Ferreira pela defesa do meio ambiente, dos povos indígenas e da liberdade de expressão.

Com apresentações culturais, músicas e discursos dos movimentos sociais do Ceará. Pessoas de bem manifestaram seu apoio ao professor Jeovah Meireles e ao jornalista Daniel Fonseca neste dia 23. A Praça do Ferreira, espaço simbólico na capital, marcou o encontro de forças como o Fórum em Defesa da Zona Costeira, a Frente Contra a Transposição do Rio São Francisco, SOS Cocó, Crítica Radical, Ongs, profissionais liberais, servidores públicos, estudantes e ambientalistas. Todos numa tentativa de mostrar para a sociedade as injustiças ambientais e a omissão da grande imprensa.

Em janeiro de 2007, a empresa Ypióca, perdeu o Selo Orgânico concedido pelo Instituto Von Demeter. O Instituto atribuiu o cancelamento a "motivos técnicos". No entanto, é provável que o problema tenha sido a repercussão de uma reportagem divulgada, em site alemão, pelo jornalista Nobert Suchanek.

A reportagem denuncia os abusos ambientais cometidos pela empresa comprometendo a Lagoa da Encantada e seu entorno. O jornalista escreveu após assistir palestra do professor Jeovah Meireles, em Fortaleza, durante seminário sobre racismo ambiental.

A notícia apenas revelou o que já era de conhecimento do IBAMA, FUNAI e até do Ministério Público Federal que, inclusive, já havia acusado a empresa de provocar danos ambientais como a eutrofização (processo desencadeado por poluição e responsável pela proliferação de algas e mortandade de peixes) e a poluição bioquímica na Lagoa.

O jornalista cearense Daniel Fonseca publicou informações relativas aos danos ambientais e ao desrespeito com que a empresa tratava o povo indígena Jenipapo-Kanindé, que vive no entorno da Encantada. Em matéria, denunciou a movimentação repressiva da Ypióca que ameaçava processar na Justiça Alemã a publicação digital feita por Nobert Suchanek. Era desejo da indústria que a matéria jornalística fosse censurada e o jornalista, punido.

A partir daí a Ypióca decidiu interpelar judicialmente o jornalista Daniel Fonseca e o professor Jeovah Meireles. Além de cometer um atentado à liberdade de expressão a empresa ainda cometeu o absurdo de negar a presença de indígenas na zona costeira cearense. Em documentos do processo judicial contra Fonseca afirma não existir a presença de indígenas no litoral cearense.

O documento emitido pela empresa contraria a posição do Ministério Público Federal, responsável, juntamente com a Funai e o Iphan, pela publicação, em 2004, do livro “Ceará, Terra da Luz, Terra dos Índios”. Publicação lançada em seminário com a presença das etnias reconhecidas (Tapeba, Tremembé, Pitaguary e Jenipapo-Kanindé) e das que estão em processo de reconhecimento (Calabaça, Potiguaras).

Os movimentos sociais escreveram uma nota de apoio às pessoas intimidadas por compreender que as atitudes da agroindústria cerceiam o direito de liberdade de imprensa e expressão. Sem esquecer o dano causado ao povo Jenipapo-Kanindé e sua Lagoa da Encantada.

Leia a nota de apoio e assine também. Basta enviar um e-mail para baima.aline@gmail.com
O clique aqui e visualize a nota:
http://www.terramar.org.br/oktiva.net/1320/nota/55053

________________________________________________

Em protesto esta jornalista, que já não bebe refrigerante, não beberá mais nenhum produto da Ypióca. Tomara que não patenteiem frutas e bebidas naturais...

Para saber mais:

http://www.portaldomar.org.br/

http://www.terramar.org.br/


terça-feira, 21 de agosto de 2007

Prato Sujo - precisamos lavar a roupa suja da cidade

O menu urbanístico da cidade de Fortaleza é um dos piores que se pode oferecer a sua própria população, a maioria faminta pelas demandas políticas não realizadas. A bela Fortaleza está cercada apenas pelos prédios da Av. Beira Mar e bairro Meireles/Varjota, onde também se avistam casas e construções luxuosas bloqueando a visão do centro, este que tem precária ou nenhuma participação no "progresso" turístico fortalezense. É o que se diz por aí, na boca do povo "desenvolvimento e beleza é coisa pra turista ver" - e o lugar deles está reservado e se limita à beira mar.

Bom, quesito beleza é que não falta a beria-mar, inclusive nossas barraquinhas de praia são das mais bem estruturadas do litoral brasileiro, porém, são construções que burlam leis e consciência ambientais. Há agora, numa tentativa de reversão desse quadro de desleixo do poder público e da apropriação privada, através de inciativa do Ministério do Meio Ambiente o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima, que será coordenado pela Prefeitura e apoiado pela SEMAM*, com o intuito de intergrar sociedade civil e órgãos governamentais num planejamento de uso e ocupação da orla de Fortaleza de forma sustentável e participativa.

Resta esperar a agenda de reuniões entre poder público e população. Fora o Plano Diretor Participativo de Fortaleza, que conta com diversas instâncias do governo municipal que deveriam estar atuando na Regulação do Uso e Ocupação do Solo; Uso e Conservação da Biodiversidade; Controle da Qualidade Ambiental; Áreas Verdes; Gestão dos Recursos Hídricos; Educação Ambiental e do Sistema Municipal de Meio Ambiente. Objetivos que fortaleceriam a administração e organização das estruturas naturais e infra-estruturas da cidade, se saísses dos incansáveis debates políticos.

Enquanto isso a especulação imobiliária assola o território praiano com pomposos, altos e luxuosos edifícios das av. Beira Mar, Abolição e adjacências, que passam por cima da legislação urbanística e ambiental, escapam da fiscalização municipal e ainda são causa e prova concretas da segregação social. A intensificação da violência nesses bairros tem sido acompanhada pela mídia e sofrida por suas muitas vítimas. Infelizmente, pouca gente entende que isso é fruto da desigualdade econômica tão presente naquelas redondezas, onde de um lado da rua há um sofisticado muro alto cercado de segurança eletrônica e humana por onde sai gente da nata empresarial ou política e, do outro lado um quarteirão ou muito mais com quase mil famílias vivendo em barracos jogados por cima um dos outros.

Favelas em áreas de risco e misturadas a nobres ruas da cidade, nobres edifícios tomando a ventilação e harmonia da capital, alto acúmulo de capital que comprou importantes espaços verdes, como o "Cocó do Iguatemi" que ganhará uma sede com as mais ricas empresas e representantes comerciais, Cocó que mesmo sendo motivo de passeatas ambientalistas; vista privilegiada para apartamentos que se acumulam ao seu redor; e assunto de suposto referendo está sumindo enquanto competições capitalistas, crescimento urbano desordenado e fracas manifestações são travadas em torno de si.

Haja roupa suja, haja motivação e mãos pra lavá-las... como vamos digerir esse prato?
________________________________________________
*Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano
Fontes: Relatórios de debates > http://www.fortaleza.ce.gov.br/emfoco/EM_FOCO_402.htm
Sítio da Semam > http://www.semam.fortaleza.ce.gov.br/p_orla.htm
Jornal O POVO

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

83 vezes Ouro

Caro Clientes,


Peço as devidas desculpas, mas venho aqui pedir a vossa atenção para uma indignação própria desse cheff: Por que o PARAPAN RIO 2007 passou desapercebido pela mídia brasileira?


Só para nos localizar, tal evento ocorrido no Rio de Janeiro teve seu encerramento nesse domingo (20/08), e o Brasil, dignamente, faturou 228 medalhas, dentre essas 83 ouros.


Como todos sabem, ou pelos menos deveriam saber, os “deficientes” que carregaram nossa bandeira surpreenderam a todos mostrando um show de EFICIÊNCIA e profissionalismo esportivo nas competições do PARAPAN RIO 2007.


E daí vem a minha dúvida, se o Brasil teve mais sucesso, por que a TV aberta, ou à cabo, jornais, rádios não deram mais espaços a essas notícias? A lógica não seria essa: mais medalhas igual a mais audiência...?


Infelizmente não vimos isso?


Isso se chama descriminação? Bem...tire as suas conclusões estimado cliente!


É imprescindível colocarmos que enquanto o PAN RIO 2007 (dos supostos atletas eficientes) contava com mais de meia dúzia de fortes patrocinadores, o PARAPAN RIO 2007 contava apenas com um patrocinador, que apesar de ser exclusivo, não tinha a capacidade de responder pelos milhões distribuídos mídia afora por essa “mais de meia dúzia” de empresas, em especial para a TV da tia Xuxa que era a proprietária das marcas referentes ao PAN Rio 2007, veicular as competições Ao Vivo, e reduzir as participações daqueles com necessidades especiais à meras matérias de dois minutos ou algumas notas cobertas no final de telejornais.


Aqui no nosso estado, no suposto jornal de “maior circulação”, não se sabe sequer o que é o PARAPAN. Nenhuma notícia foi ofertada aos leitores em seu caderno Jogada sobre esse assunto.


Isso sem fazer referência a omissão do Estado e de outros órgãos públicos que deveriam estar pensando em formas de promover políticas públicas voltadas para os portadores de necessidades especiais (desculpe-me, caso isso parece um jargão).


Retorno a minha indignação: Por que o PARAPAN RIO 2007 passou desapercebido pela mídia brasileira?


Sugestão do dia: deixe também a sua indignação no espaço para comentários!

Infância

Três meninos três irmãos
Indo pra escola na periferia
Na alvorada os três irmãos
Indo pra escola na periferia
Chegando perto da marginal
Era só o que se ouvia
Outros meninos três irmãos
São procurados na fotografia
Não vá pra perto da cidade
Aquela voz falava assim
Não vá pra perto da cidade
Ser prisioneiro feito Passarim
Passarim perto da cidade
E foram presos feito passarim
E antes das cinco dessa mesma tarde
Assassinados no chão de capim
À noite na televisão
O irmão mais velho lá no campo ouviu
No rádio e no telejornal
O irmão mais velho lá de longe ouviu
No seu corcel ele pegou a estrada
Bradando aos céus dizendo assim
Da lua da sela do seu cavalo
Bradou aos céus dizendo assim
Ô injustiça ô injustiça
Por que mataram meus irmãos
Ô injustiça ô injustiça
Por que mataram meus três irmãos
Juiz malvado ô mal juiz
Fizeste um falso julgamento
Juiz malvado ô mal juiz
Por que fizeste falso julgamento
Eu vou fazer um monumento
E dentro dele o céu azul
Eu vou fazer um grande mausoléu
E dentro dele todo o céu azul
Vou acender uma fogueira
Onde os malvados queimarão
Vou acender grande fogueira
Pra iluminar meus três irmãos
Só três meninos três irmãos
Indo pra escola na periferia
O tempo já levou a estrada
A madrugada e a casa vazia"
(Três Irmãos - Canção Tradicional
Francesa do Séc. XVI - Adapt. Fausto Nilo)
-- Dia 24 de agosto (sexta) é comemorado o dia da Infância.
-- Vem a tona a reflexão: que infância estamos garantindo à nossas crianças?
Temos o que se comemorar?
Que infância nós temos, que infância queremos?
-- Em meio a tantas injustiças sociais, só vejo a infância silenciada, invisível aos olhos. Ela não se mostra como queriamos, se revela sofrida por negligência do Estado, do poder público, da sociedade que não garante dignidade a todos(as).
-- É mais uma reflexão! Uma vontade de pensar sobre esses "pequenos" tão esquecidos!
-- Essa música me inspira, me faz perceber que nem tudo é tão natural assim ... ver um "pequeno" no sinal, com fome, abandonado me faz querer uma outra infância!
-- Abraços