terça-feira, 21 de agosto de 2007

Prato Sujo - precisamos lavar a roupa suja da cidade

O menu urbanístico da cidade de Fortaleza é um dos piores que se pode oferecer a sua própria população, a maioria faminta pelas demandas políticas não realizadas. A bela Fortaleza está cercada apenas pelos prédios da Av. Beira Mar e bairro Meireles/Varjota, onde também se avistam casas e construções luxuosas bloqueando a visão do centro, este que tem precária ou nenhuma participação no "progresso" turístico fortalezense. É o que se diz por aí, na boca do povo "desenvolvimento e beleza é coisa pra turista ver" - e o lugar deles está reservado e se limita à beira mar.

Bom, quesito beleza é que não falta a beria-mar, inclusive nossas barraquinhas de praia são das mais bem estruturadas do litoral brasileiro, porém, são construções que burlam leis e consciência ambientais. Há agora, numa tentativa de reversão desse quadro de desleixo do poder público e da apropriação privada, através de inciativa do Ministério do Meio Ambiente o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima, que será coordenado pela Prefeitura e apoiado pela SEMAM*, com o intuito de intergrar sociedade civil e órgãos governamentais num planejamento de uso e ocupação da orla de Fortaleza de forma sustentável e participativa.

Resta esperar a agenda de reuniões entre poder público e população. Fora o Plano Diretor Participativo de Fortaleza, que conta com diversas instâncias do governo municipal que deveriam estar atuando na Regulação do Uso e Ocupação do Solo; Uso e Conservação da Biodiversidade; Controle da Qualidade Ambiental; Áreas Verdes; Gestão dos Recursos Hídricos; Educação Ambiental e do Sistema Municipal de Meio Ambiente. Objetivos que fortaleceriam a administração e organização das estruturas naturais e infra-estruturas da cidade, se saísses dos incansáveis debates políticos.

Enquanto isso a especulação imobiliária assola o território praiano com pomposos, altos e luxuosos edifícios das av. Beira Mar, Abolição e adjacências, que passam por cima da legislação urbanística e ambiental, escapam da fiscalização municipal e ainda são causa e prova concretas da segregação social. A intensificação da violência nesses bairros tem sido acompanhada pela mídia e sofrida por suas muitas vítimas. Infelizmente, pouca gente entende que isso é fruto da desigualdade econômica tão presente naquelas redondezas, onde de um lado da rua há um sofisticado muro alto cercado de segurança eletrônica e humana por onde sai gente da nata empresarial ou política e, do outro lado um quarteirão ou muito mais com quase mil famílias vivendo em barracos jogados por cima um dos outros.

Favelas em áreas de risco e misturadas a nobres ruas da cidade, nobres edifícios tomando a ventilação e harmonia da capital, alto acúmulo de capital que comprou importantes espaços verdes, como o "Cocó do Iguatemi" que ganhará uma sede com as mais ricas empresas e representantes comerciais, Cocó que mesmo sendo motivo de passeatas ambientalistas; vista privilegiada para apartamentos que se acumulam ao seu redor; e assunto de suposto referendo está sumindo enquanto competições capitalistas, crescimento urbano desordenado e fracas manifestações são travadas em torno de si.

Haja roupa suja, haja motivação e mãos pra lavá-las... como vamos digerir esse prato?
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*Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano
Fontes: Relatórios de debates > http://www.fortaleza.ce.gov.br/emfoco/EM_FOCO_402.htm
Sítio da Semam > http://www.semam.fortaleza.ce.gov.br/p_orla.htm
Jornal O POVO

Um comentário:

Marcelo Andrade disse...

Falar sobre a arquitetura de Fortaleza é poder falar de umas das estruturas mais caóticas do Brasil.

Os últimos governos tiveram a preocupação de dá valor para várias empreiteiras e imobiliárias que com uma lambaça e desorganização em questão de planejamento dentro da capital cearense.

Ainda bem que Fortaleza dispõe de um relevo sem acidentes, porque já pensou em uma Fortaleza a semelhança de outras capitais?