segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Segunda-feira, vamos ao Mercado!

“Tou aqui há quarenta e três anu”, assim falou conservadamente uma das mais antigas locatárias do mercado da Aerolândia. “Eu e o Canelinha somu os mai velhu. Os outros já abandonarum ou então morreru. Sou eu e o velho Canelinha”, mais uma vez ratificou dona Nice, que advertidamente, pediu-me para não bater nenhuma foto dela.

“Já disse, não quero foto”, retrucou dona Nice ao mesmo tempo que desviava a atenção dela fazendo uma outra pergunta.

“Essa venda de carnes é da senhora?” O cheiro de carne podre era forte.

“Não não, é do Canelinha! Ele vende carne boa! Aqui a gente paga pra trabalhar. Depois que colocaram essa feira em frente ao mercado, o mercado se acabou!”

“Quer dizer que aqui não tem movimento?”

“Ter tem, mas é pouco...”

Continuei a fotografar. Apesar da ferrugem e do cheiro bastante incômodo, a luz que às duas horas da tarde entrava pelas frestas de ferro importado da Europa dava toda a graça para conseguir captar alguma imagem interessante.

“Quantas pessoas ainda têm aqui trabalhando?”

“Só umas seis! Aqui tá tudo acabado por causa da feira aí em frente. No mercado do Zé Walter foi assim!”

“Mas não há nenhuma iniciativa da prefeitura em reformar esse mercado?”

“Têm cinco firma trabalhando, mais só uma vai ficar, né?” perguntou dona Nice procurando uma resposta minha.

Continuei a fotografar enquanto dona Nice permanecia quieta na sua cadeira com assento de couro de bode, apoiada na parede, e com o velho vestido azul, com algumas rendas à altura do peito.

Um pouco perto, dona Mariana, senhora de uns quarenta anos, falava ao telefone público. Curiosa, enquanto eu ainda conversava com a mais velha locatária, ela despretensiosamente olhava, como quem querendo participar da conversa.

O clima era calmo, o local era ventilado. O que ainda rompia o som do vento era uma dúzia de homens, reunidos em duas mesas, em um trailer nas proximidades do Mercado, e um grupo de jovens, com as portas de um Gol abertas, tocando um forró de alguma banda, daqueles que costumeiramente se escuta em qualquer lugar.

Na frente do mercado, alguns pombos, todos brancos, catando sobras de alimento da feira de frutas e verduras que houve na quinta-feira passada, e um velho senhor, acredito que morador do viaduto da Base Aérea, a remecher os contêiners da Ecofor atrás de sei lá o quê!



A ligação logo terminou! Dono Mariana trocou alguns gestos com dona Nice, e logo se dirigiu para seu Box. Em frente a ele, uma precária mesa de plástico já um pouco escura, dois cadeiras de ferro típica de bar, um jornal velho por sobre a mesa e a sua dona apoiada sobre a bacanda como que esperando o próximo cliente.

“Boa tarde!”

“Boa!”

“O movimento aqui tá fraco...”, perguntei esperando uma confirmação.

“É, mas eu tenho minha clientela.”

“A senhora serve almoço?”

“Faço minhas quentinhas, sirvo as marmitas.”



No pequeno Box de dona Mariana, algo em torno de quinze metros quadrados de espaço. Podia-se ver uma mesinha com garrafas vazias de cerveja e uma de refrigerante de Caju, uma trempe com algumas panelas e um fogão um pouco enferrujado.

“A senhora está aqui há quando tempo?”

“Desde mil novecentos e noventa oito!”

“E qual é o dia de maior movimento?”

“Nenhum!”



Um comentário:

Wilton Matos disse...

Marcelinho porque tanto descaso? Será existe algum projeto para restaurar e reanimar aquele comércio?

Parabéns pela matéria e pelas fotos. Você conseguiu tirar o mal cheiro e deixou um pouco da beleza que resta.

Abraços!!