quarta-feira, 18 de julho de 2007

Receita de Hoje?


PAN-AMERICANO] Servido ao mundo como fina cozinha francesa, um caro e requintado fois gras, feito por competentes mestres brasileiros, os Jogos Pan-americanos não chegam nem perto de patê de fígado de galinha caipira!

Prestem muita atenção queridos clientes!
Receita e Modo de preparo:

Primeiro é preciso se enxergar a oportunidade e o que ela significa para um país tão carente de heróis messiânicos como o Brasil. Daí prepara-se uma campanha com recursos de multimídia que facilitem assimilação de dados favoráveis e lindas imagens do Rio de janeiro. Tudo isso, inicialmente, estimado em R$ 414 milhões de reais, [CG1] como escrito em 2002 no projeto entregue à Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa).

Com projetinho aprovado vamos às obras que o trabalho é grande! Constroem-se estádio com equipamentos de atletismo, complexos esportivos de natação, beisebol e ginástica olímpica e alojamento para os atletas. Tem também que requentar equipamentos antigos, pois, precisam de um temperinho. A exemplo da famosa lagoa Rodrigo de Freitas para as provas de remo, do estádio Maracanã e do ginásio Marcanãzinho. Muitas outras reformas e construções têm que ser realizadas – tudo muito depressa que é pra não precisar de licitação[CG2]. Quando necessária, as licitações tem que ser amarradas previamente se não nada sobra para sobremesa depois.

Um passo fundamental para o Sucesso do Pan-americano Rio 2007 está na venda das transmissões dos jogos para influentes emissoras de TV. Se uma emissora compra os direitos de transmissão de um evento, ela torna-se seja sócia do evento. E de sócio ninguém fala mal, não se critica, ao contrário só promove. Dá pra ver pelos comentários da Rede Globo, Record e Bandeirantes nos últimos três meses.

Quase pronto, para sucesso total, o prato precisa de boa apresentação. Nesta etapa vale contratar artistas respeitados e considerados cleans [CG3] para fazer música e apresentações no evento. Balés e escolas de arte são bem vindas, se forem projetos sociais apoiados pelo governo então, melhor! Tudo isso dará um ar sincero, moderno e saboroso aos degustadores do Pan. Agora, cuidado com as autoridades que valorizadas neste dia, pois o povo que quer pão e circo, como todos, mas nem sempre esquece as trapalhadas de quem comanda o picadeiro e a padaria, cai na vaia mesmo [CG4]. Calma, calma tudo pode ser contornado com apoio da mídia, aquela sócia tão interessada na visibilidade positiva do país durante os jogos.

Feito e misturado tudo isso... Voila: Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro 2007 O Pan do Brasil!

Pois é, Amig@s de mesa, inebriada nesses sabores caminha nossa mambembe nação. Os mestres cucas do Governo Federal, Governo Estadual e Municipal do Rio de Janeiro não mediram esforços para empurrar sua receita de como realizar um grande evento, alienando a nação em torno de um sentimento ufanista e ainda levando uma graninha por fora!

Sabemos que a picanha com capa de gordura faz mal ao colesterol, mesmo assim não deixa de ser irresistível! Comamos! Mas cabe a nós refletir quais serão as repercussões deste Pan-americano no Rio de Janeiro. A verdade é que este assunto tem muito para ser discutido e nós somos responsáveis por isso, uma vez que a grande mídia nunca o fará.

A união investiu mais de 1,8 bilhões de reais sob a proposta de firmar o Brasil, definitivamente, como destino de eventos esportivos internacionais. No entanto, acredita-se que o estádio Engenhão (João avelange), construído para o Pan, atualmente o mais moderno do país, nem será utilizado na proposta para a Copa do Mundo de 2014. Ou seja, em 2014, um estádio com menos de 10 anos de uso, moderníssimo, mas ele não será utilizado na Copa, por causa da pista de atletismo, que deixa a arquibancada distante do campo. Na França, o único estádio feito para a Copa de 1998, o Stade de France, também tem uma pista de atletismo. E como essa há muitas outras aberrações nas justificativas para escolha desse prato.

Mas tem gente ligada nos ingredientes usados para o Pan-americano do Rio. O Tribunal de Contas da União (TCU) já divulgou três relatórios, assinados pelo ministro Marcos Vilaça. Eles questionam a má gestão do dinheiro público na preparação para os Jogos Pan-Americanos. Devido a atrasos nas obras, o Governo passou a liberar compras sem licitação. Como o montante de R$ 161,7 milhões destinado a equipamentos de segurança, autorizado pelo Ministério da Justiça à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). "A evolução astronômica dos gastos revela a incapacidade dos agentes envolvidos em prever os dispêndios necessários à realização do empreendimento", diz o primeiro relatório, que indica que a falta de planejamento ocorreu em todas as ações relativas aos Jogos.

Qual o real benefício dessa política esportiva? Isso é política esportiva? Qual serão os usos dos equipamentos criados para o Pan após os jogos? Por que não recebemos competições mundiais como brasileiros, dentro de nossas posses, sem imitações esdrúxulas de competições européias?

Um estudo do IBGE de 2005 apontou que apenas 12% das escolas municipais do País possuem instalações esportivas como quadra, pista de atletismo ou piscina. Faltam, também, espaços públicos para prática de esportes. O fato é que historicamente nunca tivemos políticas para formar atletas de alto nível. Nem públicas, nem privadas. Nossas escolas, inclusive as burguesas, geralmente, tratam o esporte como algo menor.

Um atleta no Brasil, além de treinar, precisa trabalhar e estudar em mil e outras atividades para se manter. A real é que nossos atletas têm uma geração espontânea e, depois que eles conseguem suas façanhas, não se cria uma estrutura para que venham os seguidores.

Os medalhistas do Pan merecem aplausos e votos de que suas conquistas se repitam nas olimpíadas. Porém sabemos, historicamente, que dificilmente isso acontecerá. Em Pequim estão presentes esportistas valorizados por sua prática. Os primeiros de cada País, incluídos norte-americanos, europeus e asiáticos.

Ao leitor pergunto como seria a receita do esporte brasileiro se todo o investimento no Pan fosse destinado a políticas de valorização do esporte nas escolas, ou do esporte como ferramenta de socialização de crianças e adolescentes?
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[CG1] [CG1] O orçamento inicial para o Pan, encaminhado à Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa), estava previsto em R$ 414 milhões, em 2002, subiu para R$ 3,8 bilhões, inflou em cerca de 915%. Divididos entre as esferas governamentais, os gastos ficaram em cerca de R$ 1,8 bilhão para a União, R$ 1,4 bilhão da prefeitura e R$ 600 milhões do Estado.

[CG2] [CG2] Aqui cuidado... Na pressa algumas obras podem ser mal realizadas. Campos que alagam, placares que não funcionam e/ou estacionamentos que não ficam prontos!

[CG3] [CG3] Arnaldo Antunes e Cordel do Fogo encantando são boa pedia! Não esquecer de mulheres bonitas, a Miss Brasil, talvez... Ah... Fundamental nesse circo é o samba, afinal não é o supra-sumo da cultura brasileira e identidade do Rio de Janeiro?!

[CG4] [CG4] O presidente Lula foi vaiado ao menos cinco vezes quando seu nome foi anunciado. Na cerimônia de abertura dos jogos Pan-americanos, um microfone havia sido preparado para o presidente declarar os jogos abertos - mas a idéia acabou abandonada, sem mais explicações.

Está matéria é inspirada no espírito e nas críticas do jornalista Juca Kfouri. Para saber mais sobre o assunto consulte:

http://averdadedopan2007.blogspot.com/
http://www.brasilnopan.com.br/
http://www.opovo.com.br/opovo/paginasazuis/
www.cob.org.br/


3 comentários:

Marcelo Andrade disse...

É bastante complicado essa receita! Estamos lidando com ingredientes que são escassos, mas, ao mesmo tempo, são bastantes propagados pela nossa mídia. o Esporte é vendido, no entanto se esquece de ver que esporte também é Educação, e no caso, esse produto nós não o temos!

Anônimo disse...

A realidade visual que vivemos se distancia da vivida em nosso pais com passos largos ...cade a violencia do Rio?!, cade as escolas fechadas?!, cade tanta coisa real que esquecemos com tanta facilidade... cada vez mais somos levados a crença de que está tudo sendo resolvido com grande exito. Falta a nós consumidores e cidadãos em geral, lutarmos para que a receita tão bem apresentada
seja mostrada por inteiro e não apenas o que gostaríamos que fossem os ingredientes principais deste prato do dia!

Jord Guedes disse...

Que texto bom eim Camila? Confesso que já havia parado pra refletir a respeito dos gastos em torno do Pan, mas é tudo muito contraditório. Realmente a mídia nos envolve de maneira tal e o sentimento de nos vermos meio que representados a cada medalha de ouro pode velar tudo isso. Esses dias tenho estado de molho por motivos de saúde e a minha distração tem sido acompanhar os jogos. Mas não dá pra tapar o sol com a peneira. De que modo tudo isso vai se refletir daqui a pouco, quando o Pan acabar, na vida das pessoas que moram no Rio e no Brasil, no seu cotidiano?