quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Receita do Dia? Sal do mar e rosas...


A receita de hoje tem sabor de miscigenação!

Com cheiro de rosas e gosto mar, me apropriei da salada sincrética que é a fé do brasileiro, e fui saudar a linda mãe Iemanjá!

Todo dia 15 de agosto, em Fortaleza, é celebrado o dia de Janaína. Terreiros de todo Ceará vão para a Praia do Futuro fazer oferendas à Rainha do Mar. Eles a presenteiam com flores, perfumes, velas e mimos de todos os tipos, tanto na areia da praia, quanto nas ondas do mar.

Cultuada no Brasil por diferentes religiões Afro-descendentes, também é celebrada no dia de Nossa Senhora dos navegantes, 2 de fevereiro, e no dia de nossa senhora da Conceição, dia 8 de dezembro.

Iemanjá, rainha do mar, é conhecida por dona Janaína, Inaê, Princesa de Aiocá e Maria, no paralelismo com a religião católica. Aiocá é o reino das terras misteriosas da felicidade e da liberdade, imagem das terras natais da África, saudades dos dias livres na floresta, Jorge Amado.

A Praia do Futuro, hoje, amanheceu azul, branca, vermelha, lilás, dourada e prateada. Além do barulho das ondas tinha sons de tambores e chocalhos, cheiro de rosas, incensos e cigarros. Toda preparada para um ritual que acontece a 39 anos na cidade.

A Umbanda é vista pela sociedade, sempre tão desinformada, de forma preconceituosa, como se maldição ou culto a forças do mal. Mas na Praia o que se via era famílias festejando e tentando preservar suas tradições. São mães, pais, filhos, noras e netos que pediam saúde e paz a um mundo perdido nas verdades e vaidades construídas pelo homem pós-moderno.


De Juazeiro do Norte, no sul do Ceará, vieram 50 pessoas do Terreiro de Santa Bárbara. Comandados pelo casal Arlindo Silva e Cícera Fernanda, filhos de Iansã, montaram seu terreiro na praia com cores e alusões aos santos católicos Cosme e Damião, a Santa Bárbara (Iansã), e, claro, a Janaína. Há sete anos o grupo vem saudar a mãe das águas salgadas. “ Todo ano a gente vem. Aquela bandeira azul ali, representa o fim de uma obrigação de sete anos que estamos cumprindo hoje. É o desenvolvimento de nossos principais irmãos que podem receber os Caboclos com suas doutrinas”, disse Arlindo Silva.

fotos de Iara Isidio, especial para o PratodoDia.

6 comentários:

Wilton Matos disse...

Eu tava na beira da praia...
Vendo o balanço do mar
Qaundo vi uma linda sereia
E eu começei a cantar...

ô Janaína vem ver
ô Janaína vem cá
Receber as flores
Que eu vou te ofertar.

Wilton Matos disse...

A melhor combertura da festa de Iemanjá foi mesmo do Pratododia que respeitou a maior festa afro realizada aqui no Ceará. Outros jornais destacaram a insegurança esquecendo da beleza cultural e religiosa da festa.
O pratododia esteve com o grupo de Fotografia Gota de Luz que encontrou famílias, turistas numa festa de grande beleza.
Bandido tem também. Mas em qual classe social não tem bandido?

Camila Garcia disse...

Ao entrevistar as pessoas pude constatar o quanto receptivos e humanos são os devotos de Iemanjá! Interessados na cura e em acalentar os aflitos.

O sentimento de insegurança parte do preconceito e medo do desconhecido. Claro que o descaso da prefeitura e da sociedade fortalezense alimentam problemas que já existem na Praia do Futuro com ou sem festa para Janaína.

A procissão para Nossa senhora da Assunção teve cobertura da mídia antes, durante e depois! A fé e simbologias foram muito bem representadas nessas matérias. Por que não aconteceu o mesmo com a celebração na Praia do Futuro?

Monique L. disse...

Amig@s, a cobertua da festa de Janaína ficou lindíssima!!
Iemanjá pra mim é o símbolo da força feminina que acalenta o mais revolto dos mares, protegendo seus homens. É a magia da fé.
Essa sincretização pecualiar do Brasil é que faz a beleza de nossas celebrações.
Devíamos todos ter orgulho de nossa diversidade, em vez de nos cegarmos com o preconceito.
Mas é isso aí, PratodoDia especial!
abraços

Marcelo Andrade disse...

Talvez tenha uma explicação elucidada por Ismael Pordeus Jr. em um dos livros da coleção Museu do Ceará em que o mesmo investiga a umbanda no Ceará. Segundo ele, a ausência de uma cultura negra no Ceará, ao contrário de estados como Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, tem sua parcela de contribuição pelo esquecimento dessa representação cultural tão significativa. Poucos foram os redutos negros no Ceará, o que leva o pesquisador a compreensão de que tal prática cultural se fez apropriada por outros, que não os negros.
Vale lembrar que, segundo o livro, as tradições de umbanda estão, também, bem enraizadas no interior cearense, mesmo assim, um outro fator conta para o esquecimento dessa prática. O catolicismo no Ceará é bastante forte, traduzido por romarias que se destinam aos centros de peregrinação como Juazeiro e Canidé.

Apesar da nossa atualidade requisitarnos uma maior abertura na questão de vivências e respeito às manifestações culturais (até mesmo pela necessidade de construção mnemônica e preservação dessa), alguns indícios históricos nos conduzem para a tradição e realidade observada em dias como os nossos (escassa cultura negra no Ceará e força de movimentos católicos.

Essa são apenas alguns elementos históricos...

Gina Emanuela disse...

Camila, foi gostoso poder te acompanhar na preparação desse prato _ sua dedicação, deslumbre e respeito pelos ingredientes_ e é com surpresa que o saboreio. É a primeira vez que vim provar seus escritos,e já fui gulosa o bastante pra ler todos os abaixo. A sensibilidade, para a qual você reservou um dia todo, é também usada em todos. Já sou fã do gosto das suas palavras. Um abraço!